A autônoma Gabrielle Veiga Mestre, que teve o currículo usado como etiqueta de preços em uma loja de presentes em Jaboticabal (SP), está há dois anos procurando uma oportunidade de emprego fixo. A jovem já trabalhou em diferentes áreas, mas sempre de forma temporária.
Segundo ela, o currículo enviado à Milly Presentes, loja onde uma bolsa estava à venda com o valor marcado no verso da foto de Gabrielle, era uma tentativa de obter uma vaga com carteira assinada. Mas a expectativa foi frustrada.
Gabrielle, no entanto, não desistiu de conseguir um emprego. Ela diz que está aberta a propostas para crescer profissionalmente e também deixar as contas do mês em dia. Atualmente, ela divide casa e despesas com um amigo.
“Eu sobrevivo de uns desenhos que eu faço. Trabalho como garçonete freelancer e tenho o Auxílio Emergencial, mas o que pintar eu pego. O que aparecer, eu pego”, afirma.
Dificuldades
Desde que terminou o ensino médio em 2017, Gabrielle tenta se encaixar no mercado de trabalho, mas, segundo ela, esbarra nas dificuldades encontradas na cidade natal.
“Jaboticabal é muito estranha. Eu não estou no padrão da sociedade. Eu tenho tatuagem, tenho cabelo raspado atrás. Eu acho que é preconceito. Eles não dão a oportunidade de conhecer a pessoa”, afirma.
Nos últimos anos, a jovem fez bicos como monitora, garçonete e cozinheira em um buffet infantil, vendedora e repositora em lojas de um shopping em Ribeirão Preto (SP), repositora em um outro estabelecimento e babá.
Porém, com a crise econômica em virtude da pandemia de Covid-19, as oportunidades foram diminuindo e o dinheiro foi acabando. Mesmo assim, ela não pretende voltar a morar com os pais.
“Estou com o aluguel atrasado, não tenho uma mistura em casa e nem o auxílio aguentou. Mas vou sobrevivendo. Já são dois anos morando sozinha. Responsabilidade eu sempre tive, até mesmo morando com meus pais. A gente tem que ir vivendo para evoluir cada vez mais”, diz.
Revolta
Em uma das idas ao Centro de Jaboticabal para a entrega de currículos no comércio, Gabrielle deixou o documento em uma loja de presentes na segunda-feira (5).
Horas depois, a mãe dela passou pelo estabelecimento e, ao sair, encontrou a foto do currículo da filha sendo usada como etiqueta de preços em bolsas à venda.
Ela tirou fotos e enviou à Gabrielle. Decepcionada, a jovem fez um post nas redes sociais, que, em poucas horas, viralizou.
“É uma falta de consideração total. Estou querendo entrar em contato com um advogado para saber dos meus direitos. É uma coisa assim que não pode ficar abafada. É uma falta de respeito”, diz a autônoma.
Por telefone ao G1, uma vendedora da Milly Presentes confirmou que o currículo de Gabrielle foi usado como etiqueta. A funcionária, que não quis se identificar, também informou que houve um engano no momento de cortar as folhas para colocar os preços e que a imagem de Gabrielle já foi retirada da vitrine.
Segundo a vendedora, as etiquetas à mão são feitas apenas com papéis em branco. Os currículos, de acordo com a vendedora, são levados para outro departamento. Os documentos são analisados, e depois algum responsável entra em contato com as candidatas.