Filho de economistas, Leonardo Paz já sonhou em ser político e diplomata, mas foi durante uma viagem aos Estados Unidos que decidiu que faria da administração sua carreira. Embora tenha apenas 39 anos, o executivo possui uma trajetória profissional de 17 anos e coleciona experiências em setores que vão de tecnologia ao mercado automobilístico.
Em 2018, Leonardo foi convidado a assumir a cadeira de CEO da Imovelweb, um dos maiores portais do mercado imobiliário no Brasil. “Quando vim para cá, substituindo uma liderança estrangeira, a ideia era que eu imprimisse uma cultura mais jovem e brasileira”, diz.
Com quase 200 empregados, Leonardo afirma que um de seus maiores desafios à frente da empresa é manter o espírito descontraído que permite que seus funcionários se divirtam no trabalho — sem perder o foco nos resultados.
Você comentou que se interessa pelo mercado imobiliário desde pequeno. Por quê?
Uma das lembranças que eu tenho da infância é pegar o jornal de domingo e refazer as plantas dos apartamentos da seção de classificados enquanto via Fórmula 1 com meu pai. Até hoje, quando quero relaxar, fico refazendo plantas de prédios no Paintbrush, como se fossem um quebra-cabeça. Fora isso, durante o período em que morei no exterior, fiquei fascinado pela prática de flipping, que basicamente é comprar imóveis caindo aos pedaços nos grandes centros urbanos, reformá-los e lucrar com eles. Esse era meu sonho de aposentadoria há uns dez anos. Então, de certa maneira, o mercado imobiliário sempre esteve presente em minha vida.
E como é atuar em um setor que oscila bastante?
Acredito que o mercado de construção se regule de acordo com o estoque. Quando vem uma crise, como a bolha imobiliária de 2008, as construtoras param de lançar novos empreendimentos. Com um estoque menor, a demanda e a oferta uma hora se encontram novamente. O preço fica razoavelmente estável. O que aumenta durante os períodos de recessão é o tempo de giro dos imóveis. Isso significa que uma venda que poderia acontecer em três meses pode levar um ano, por exemplo.
Como você se preparou para assumir a posição de CEO?
Estou aprendendo ainda. O que acreditamos que agradaria a alguém nem sempre acontece, e isso é algo que precisei trabalhar. No Groupon, onde eu era vice-presidente regional, vendia de tudo, de depilação de virilha a sushi de restaurante japonês, por isso tive de entender diversos perfis. Eu não podia pensar só com a cabeça do Leonardo, de 30 e poucos anos, e isso me ajudou bastante. Hoje, antes de tomar qualquer decisão, eu sempre tento me perguntar: “Isso é algo que agradaria ao time?” Um exemplo é a mudança de escritório, que aconteceu em julho.
Nossa antiga sede, na Vila Olímpia, era do lado da minha casa, dava para ir a pé. Mas eu sabia que essa não era a realidade de todas as pessoas e que muitas se apertavam no trem lotado diariamente. Então achei que a região da Avenida Paulista, que tem fácil acesso de metrô, seria fantástica. Para mim ficou mais longe, claro, mas preciso pensar com a cabeça de meus 180 funcionários, na qualidade de vida deles. Grande parte do meu trabalho é ser um facilitador, estou o tempo todo questionando como fazer com que as pessoas se sintam bem enquanto trabalham.
E qual é o maior desafio desse processo?
Um dos grandes desafios é exatamente encontrar esse equilíbrio. Fazer da empresa um lugar divertido, sem deixar que esqueçam que o foco ainda é produzir e lucrar. Por isso, disponibilizamos massagem, refeitório, ginástica laboral, happy hour, entre várias outras coisas. Aliás, uma de nossas exigências quando nos mudamos para o novo espaço era que ele possuísse uma quadra de vôlei de areia, que está sendo finalizada. Quando morei no Rio de Janeiro, jogava bastante e sabia que isso agradaria ao time. O proprietário chegou até a sugerir um campo de squash. Eu o chamei de mauricinho e disse que minha galera não ia praticar isso [risos].
Como você busca ser um líder que inspira?
Acredito muito que a iniciativa privada no Brasil educa. É na empresa, muitas vezes, que são ensinados valores, processos e até mesmo itens básicos, como língua portuguesa, aos quais inúmeras pessoas não têm acesso. Por isso é necessário, primeiramente, dar exemplo. Então, para eu cobrar algo, não posso fazer diferente. Nem sempre consigo, porque o ser humano é naturalmente falho, mas creio que é preciso buscar essa evolução.
Um dos valores da Imovelweb é a diversidade. Como você busca atrair perfis diferentes e tornar o ambiente mais inclusivo?
Algo do qual me orgulho bastante é a quantidade de mulheres líderes aqui na Imovelweb. Acho que é a primeira empresa em que trabalho que elas são maioria nos cargos de gestão, o que é muito bacana. Minha vontade é que isso se torne realidade para outros grupos minoritários, como os negros. Hoje não temos nenhum em cargo de gerência, e é algo que podemos melhorar. Essas pessoas precisam ter chance de entrar no mercado de trabalho. Cada vez mais empresas inteligentes flexibilizam a questão da obrigatoriedade de diploma, por exemplo. Além disso, temos um programa de auxílio educacional que pode ser usado desde em pós-graduação até em curso de idiomas.
Qual é a principal característica que você leva em conta quando contrata alguém?
Pode parecer básico, mas um bom português é fundamental. Quando vamos vender uma ideia, temos duas coisas: o conteúdo e a embalagem. Se eu embalo meu conteúdo de maneira equivocada, muitas vezes quem recebe a informação não presta atenção no que quero dizer. Eu brinco que devemos ter uma linguagem com padrão Jornal Nacional. Além disso, durante o recrutamento eu adoro quem, educadamente, me desafia e me faz pensar, aquelas pessoas que são fora da caixinha. Esse pensar fora da caixa, aliás, é muito importante, uma vez que as organizações estão se tornando multidisciplinares. Hoje não basta que o profissional seja especialista em uma área, é preciso que ele tenha noção de vários outros conhecimentos para contribuir para a empresa.